A Pausa Inevitável da Maternidade nas Nossas Carreiras: A Realidade da Geração que Acreditou que Poderia Ter Tudo
Semana passada fui ver um show do Fastasma da Ópera, e de verdade, saí tão pensativa que adoeci. O corpo responde né?
Eu cantava - canto todas aquelas músicas, e me fez lembrar que 11 anos atrás eu estava firme e decidida em cantar, em ter uma carreira invejável, mas aí passou uma coisa: eu quis ser mãe e tudo mudou. Antes que digam que me arrependi, não, não é sobre isso. Não trocaria minha família por nenhuma carreira nesse mundo, mas sim, a frustração de saber que faz 10 anos que vivo entre mundos e a certeza de que apesar de ter avançado na minha carreira, foi tudo atropelado, foi tudo passando em cima de mim mesma, que o corpo tá mandando a conta agora. A fase bebê passou, aos poucos vou tentando ordenar a cabeça e seguir em frente, mas antes de qualquer próximo passo preciso me livrar dessa sensação de fracasso. Ora, eu dei a luz duas vezes, amamentei, sem rede de apoio que nunca tive, depois mudei de país e estou criando dois seres humanos no exterior, numa mistura de culturas, com pouca rede de apoio.
Vivemos em uma era em que a ideia de "ter tudo" foi vendida com tanto fervor que muitas de nós acreditamos que realmente poderíamos alcançá-la sem grandes sacrifícios. Somos a geração que cresceu ouvindo que poderíamos ser mães, profissionais de sucesso, esposas, amigas presentes e ainda cuidar de nós mesmas – tudo ao mesmo tempo, com um sorriso de satisfação no rosto. No entanto, a realidade da maternidade revela uma verdade muito diferente, uma pausa inevitável que muitas vezes nos obriga a confrontar a fantasia de equilíbrio perfeito que nos foi imposta.
Quando nos tornamos mães, a pausa na carreira não é uma escolha, mas sim uma consequência natural das demandas físicas, emocionais e psicológicas que a maternidade impõe. Cuidar de uma nova vida requer tempo, energia e, muitas vezes, uma reorganização total de prioridades. Mas, ao invés de aceitar essa pausa como algo natural e necessário, muitas de nós tentamos ignorá-la, mantendo o ritmo insano das nossas rotinas profissionais, buscando dar conta de tudo. O resultado? Frustração, sobrecarga e, em muitos casos, a sensação de estar falhando em todas as frentes.
A sociedade ainda sustenta o mito de que é possível equilibrar tudo sem ceder em nenhum aspecto. A imagem da "supermulher" que domina tanto o ambiente de trabalho quanto o lar é amplamente disseminada, mas raramente é discutido o custo emocional e físico desse esforço. O que muitas não veem é que, por trás desse sorriso de satisfação, frequentemente existe uma exaustão profunda.
Na verdade, estamos sobrecarregadas e, em muitos casos, dopadas, seja com o consumo de estimulantes para enfrentar a fadiga ou com a repressão de nossas emoções para evitar enfrentar a realidade de que não podemos fazer tudo de maneira equilibrada. Nos dividimos entre reuniões, mamadeiras, relatórios, choros e fraldas, sempre tentando ser impecáveis em cada papel que assumimos. E quando não conseguimos, o que acontece? A culpa – outro fardo que carregamos em silêncio, sem muitas vezes ter espaço para desabafar ou admitir que estamos sufocando.
Por mais que sejamos capazes de realizar diversas tarefas simultaneamente, há um limite humano que não pode ser ignorado. A pausa que a maternidade provoca nas nossas carreiras não é uma fraqueza ou um fracasso. É uma fase natural, um reflexo do que significa criar e cuidar de uma nova vida. A sociedade precisa evoluir para entender que essa pausa deve ser respeitada, que a mulher não está "perdendo tempo" quando se afasta temporariamente de suas atividades profissionais para priorizar seus filhos. Pelo contrário, ela está assumindo um dos papéis mais importantes que pode ter.
Entender que essa pausa não define nossa competência, mas sim nossa humanidade, é crucial. A pressão de tentar ser tudo ao mesmo tempo não é apenas desumana, mas também perigosa. Precisamos começar a valorizar o espaço e o tempo que a maternidade exige e encontrar formas de equilibrar, de forma realista e saudável, os diferentes papéis que desempenhamos na vida.
Muitas de nós ainda se veem, anos após a maternidade, tentando reencontrar seus espaços no mercado de trabalho. Mas agora, além de profissionais, trazemos uma bagagem emocional e habilidades desenvolvidas como mães que nos tornam ainda mais fortes e capazes. Precisamos, sim, de pausas, de apoio e de uma sociedade que compreenda que não podemos fazer tudo ao mesmo tempo. E está tudo bem assim. Não é fraqueza. É vida.
Ser mãe e profissional de sucesso não deve significar sacrificar nossa saúde mental ou emocional, nem viver dopadas para dar conta de expectativas irreais. Precisamos de uma nova narrativa que celebre a maternidade com suas pausas e transições, e que entenda que o verdadeiro sucesso é fazer o melhor que podemos, sem nos perder no processo.